GT 1 – Gênero e feminismos no Brasil e México

Atividade remota


Coordenadoras: Alinne Bonetti (UFSC-Brasil) e Mary Goldsmith (México)

Inspiradas pela perspectiva crítica da descolonização do conhecimento, neste GT buscamos reunir pesquisadoras brasileiras e mexicanas em diálogo crítico acerca das provocações epistemológicas feministas e das mulheres para a ampliação e/ou revisão do pensamento antropológico. Ao longo das duas sessões do GT contaremos com a apresentação de pesquisas, reflexões e análises que, de um lado, aportam desafios e fraturas epistemológicas tanto à antropologia quanto ao próprio feminismo e, de outro, fornecem olhares antropológico-feministas a questões candentes nos contextos brasileiro e mexicano. 

Sessão 1: 05/09/2022 – 11h00-13h00 (Horário de Brasília) – Desafios epistemológicos

1. Carmela Cariño Trujillo (Universidad Autónoma Metropolitana, Azcapotzalco – MX):  Mientras ellos apuestan por la muerte, nosotros seguimos apostamos por la vida –  Algunas reflexiones desde el compromiso político ontoepistémico en la descolonización del conocimiento

2. Anahí Guedes de Mello (Anis – Instituto de Bioética): O futuro é acessível: aportes para pensar os discursos e práticas de resistência do feminismo defiça.

Resumo: Pensando nas mulheres com deficiência como ‘novos sujeitos do feminismo’, este trabalho se propõe a lançar alguns aportes sobre o que vem a ser o chamado ‘Feminismo defiça’ no Brasil, a partir da análise dos discursos e práticas de resistência de mulheres com deficiência na internet. Desse modo, a proposta é refletir quais são as suas principais bandeiras de luta em relação ao que deve(ria) ser suas pautas junto aos movimentos feministas, bem como os desafios epistemológicos que constituem o ‘feminismo das mulheres com deficiência’.

3. Georgina Méndez Torres (Universidad Intercultural de Chiapas – MX): Para mí eso no es feminismo indígena: Cuestionando el poder de los feminismos y la antropología para nombrarnos y estudiarnos

4. Kowawa Kapukaja Apurinã (PPGA/UFF-Sorbonne/IHEAL – BR): Ensaio sobre a Etnografia Encantada

Resumo: As pretensões somente possuem ressonâncias, quando aplicamos e efetivamos em nossas vidas. A etnografia das encantarias são as pistas de fazeres, adaptadas no sentido de quem faz, não o nos métodos rígidos ocidentais, mas nos nossos modelos de fazer. Não é um novo método dentro da Etnografia, pois, nos apropriamos, desta ciência ocidental, para fazermos as nossas traduções, mas a encorpar/incorporar a todas as pesquisas e vozes. A diferença – etnografia é o detalhe afetado (experiência e a experimentações). A proposta etnografia, esteja no campo das descrições etnográficas como exercício místico dentro da própria antropologia. A diferença é: Ela é politica, espiritual, ancestral implicada com a marca ética. Porque nos visamos muitas coisas, e cada etnografia destruir os regimes de alteridades coloniais, ainda vigentes no pensamento antropológico. Não existe protocolos deste fazer, mas podemos pensar os exemplos: Botocudos, Tupinambá́ e Apurinã e prescrutar os regimes de discursos.

5. Lizbeth Hernández Cruz (Universidad Iberoamericana- MX): Apuntes para pensar-hacer desde el ser indígena feminista. 

Sessão 2: 06/09/2022 – 11h00-13h00 (Horário de Brasília) – Contribuições antropológico-feministas sobre temas emergentes

1. Rozeli Porto (PPGAS/UFRN – BR): “Permanência” à base da “resistência”: Pandemia, aborto e telesaúde.

Resumo: No Brasil são inúmeras as dificuldades enfrentadas pelas mulheres para a realização do aborto legal, agravadas pelo atual governo e pela pandemia da COVID-19. Desde o início da pandemia, vários entraves foram sobrepostos aos serviços advindos das próprias instituições de saúde e/ou governamentais: portarias “policialescas” do Ministério da Saúde; pautas conservadoras legislativas; fechamento de alas hospitalares para atendimento ao aborto legal etc. Tais dificuldades mobilizaram organizações internacionais para garantir direitos pertinentes a saúde reprodutiva, destacando-se investimentos em serviços como o telessaúde, que permitem o uso de tecnologias para fins de assistência, pesquisa, prevenção de doenças, em estabelecimentos públicos e privados. Com tais bloqueios e outras restrições, o aborto por teleconsulta, – em que a medicação é administrada em casa em consulta com um profissional médico por telefone ou videochamada – foi permitido em alguns países. Com a ameaça de fechamento de alguns serviços de aborto legal no Brasil, o Hospital de Clínicas de Uberlândia/MG, aprovou a interrupção da gravidez por telemedicina em vítimas de estupro, serviço inédito no país. Contudo, ele anda ameaçado pelas próprias instituições provedores de saúde, com alegações de conduta ilegal e da periculosidade na realização caseira do procedimento. O objetivo dessa apresentação é refletir sobre tais críticas e perseguições relativas ao aborto legal em tempos de pandemia, com enfoque especial ao uso da telemedicina. A pesquisa é de cunho qualitativo, incluindo entrevistas com profissionais de saúde, e utiliza diferentes documentos para análise. Faz parte da pesquisa “A Covid-19 no Brasil: análise e resposta aos impactos sociais da pandemia entre profissionais de saúde e população em isolamento” (MCTIC).

2. María Guadalupe Huacuz Elias (Universidad Autónoma Metropolitana, Rectoría – MX):  Violencia falocéntrica en las universidades. Reacciones feministas frente a un problema complejo

3. Francine Costa (PPGICH/UFSC – BR): Afrocatolicismo no Sul do Brasil: da Pastoral do Negro ao Grupo Consciência Negra de Joinville.

Resumo: Esta apresentação faz parte de uma pesquisa de tese sobre a atuação política de mulheres negras que compuseram a pastoral do negro a partir de meados da década de 1980, em Joinville (Santa Catarina/Brasil). Foi em contexto da Teologia da Libertação e das Comunidades Eclesiais de Base que emergiu as agentes da pastoral do negro – APN, pessoas que pautaram e pautam políticas públicas não governamentais, luta por justiça social e luta anti-racista a nível Brasil. Em Santa Catarina, se estruturou em várias regiões com foco na formação de consciência crítica em relação à negritude dentro da Igreja Católica a partir da concepção de uma vivência ecumênica e cultural do negro, teve grande atuação social e política principalmente entre a década de 1980 e início dos anos 2000, com destacado papel das mulheres, maioria no movimento. A partir do diálogo com mulheres que participaram deste movimento, este trabalho reflete sobre alguns aspectos relacionados a epistemologias feministas localizadas no sul global que podem tensionar fronteiras de lugares políticos na sociedade pós-colonial em que estamos inseridas e contribuir no debate e reconhecimento das formas de ação sobre desigualdades estruturantes da nossa sociedade, como as que atravessam as culturas e histórias das populações negras que passam pela experiência colonial e também na construção de conhecimento feminista, negro e de epistemologias do sul global na proposta de identificar e localizar narrativas e agências neste espaço político e religioso de APN em diálogo com experiências de mulheres negras e seus trânsitos que promovem lutas contra o racismo e por efetivação de direitos,  políticas públicas, cidadania e justiça social.

4. Astrid Cuero

5. Francine Rebelo (Instituto Federal do Amazonas, Parintins/BR): Politização da maternidade: interseccionalidades e atravessamentos étnico-raciais

Resumo: A experiência da maternidade é atravessada por marcadores de gênero, etnia, raça e classe, impactando na continuidade da relação entre mães e filhos/as e também nas possibilidades e condições de maternagem. Busca-se aqui analisar os impactos do colonialismo nas experiências maternas, bem como descolonizar os escritos sobre maternidade, a partir de uma escuta atenta das narrativas e desabafos das mulheres não-brancas, sobretudo, mães indígenas. Destaca-se, principalmente, como as mulheres indígenas, em sua luta por serem mães, mobilizam também a luta por territórios e direitos, lançando-se a espaços públicos, políticos e por muitas vezes, espaços de militância, deste modo, ressignificando a maternidade.